quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

I Fall in Love Too Easily

I fall in love too easily, I fall in love too fast
I fall in love too terribly hard for love to ever last
My heart should be well-schooled 'cause I've been fooled in the past
And still I fall in love too easily, I fall in love too fast
My heart should be well-schooled 'cause I've been fooled in the past
And still I fall in love too easily, I fall in love too fast”

27/02/2008, 8:06 AM, T1-Direta, Parada do Shopping Praia de Belas.

Meu estado semi-vegetativo matinal é interrompido quando ela adrentra o coletivo.
Ela passa a roleta e caminha em direção ao banco onde estou sentado, mas escolhe sentar no banco da frente do meu.
Durante seu caminhar no corredor, pude perceber seu rosto: olhos de um redondo intenso parecendo bolas de gude. Um boca belamente torneada, com um leve sorriso matinal estampado, talvez motivado pelo som que vinha do seu tocador de música portátil . Seus lindos e bem cuidados cabelos morenos, iam além de seus ombros e serviam de complemento para aquele rosto, digamos assim, ordinário. Ordinário porque não havia nada nela que chamasse tanto a atenção, como um óculos escuro de tamanho avantajado, uma maquiagem mais carregada, um colar ou brinco proeminente, um penteado diferente. Nada havia, a não ser seu rosto comum e sua beleza natural.

Quando ela sentou, pude sentir seu perfume por alguns segundos. Um cheiro confortante, que me passou uma sensação de paz, serenidade, de alívio. Assim como seu rosto, o perfume não tinha traços marcantes, não era nem muito doce, nem muito cítrico. Acho que era um misto entre seu próprio cheiro e uma fragrância pouco agressiva, que combinavam perfeitamente com ela e com a manhã ensolarada.

No trajeto, me pus a observar pelas costas, aquela simples e bela mulher. Um certo transe, tanto que o tempo passou muito rápido e eu quando notei, já chegava ao meu destino.

Ela, assim que se acomodou no assento, arrumou o cabelo. Uma arrumada delicada, sutil, que para mim parecia em câmera lenta. Ela pegou as duas mãos e juntou o cabelo e enrolou-o, no mesmo gesto que as mulheres quando vão prendê-lo com um elástico. Mas ao invés de prendê-lo, ela simplesmente colocou-o sutilmente para frente, junto ao seu ombro esquerdo.

E então pude prestar a atenção na sua nuca e na etiqueta da sua blusa que estava pra fora da roupa. Conseguia ler o que dizia na etiqueta e um impulso, controlável é claro, quase me fez coloca-la para dentro.

Depois de fitar sua nuca, prestei atenção nos seus dedos. Unhas bem feitas, de uma cor clara um tanto discreta. Dedos não muito finos, mas não grosseiros, sem nenhum anel. Mãos femininas ordinárias e lindas, assim como ela toda se apresentava pra mim. Percebi isso porque com seus dedos, ela alisava o cabelo, bem na ponta. E com a ponta dos dedos, ela começava a enrolá-los. Parava, soltava tudo e recomeçava. Parava, segurava um pouco acima da ponta com o dedo médio e o polegar e com o indicador, acariciava a ponta formada. Soltava, começava a enrolá-los e soltava... E o tempo seguiu sem que eu conseguisse parar de prestar atenção nela, com o vento entrando pela janela um pouco mais na frente e me fazendo sentir seu cheiro. Um transe, em eu ria sozinho em silêncio, encantado com aquela beleza ordinária.

Ao chegar quase ao meu destino, percebo que ela também irá descer na mesma parada. Ela se levanta, vira e se encaminha pra porta e eu novamente pude olhar seu rosto. Um lindo rosto ordinário, como vários que passam em nosso dia-a-dia.
Descemos, ela caminha em direção a entrada da Universidade. Eu sigo atrás.
Ela se encaminha para o prédio da Reitoria, enquanto eu sigo meu caminha para o meu prédio.

Algo me diz que eu nunca mais irei encontra-lá. Que aquele momento foi e a lembrança ficou, seja na forma de imagens ou cheiros. Era pra ser assim, sem nomes, sem informações, tão somente sensações.
E que me apaixonei muito rápido, quase na mesma proporção de que me dei conta de que o tudo havia terminado no momento em que ela levantou do assento e que era hora de seguir adiante, no meu caminho. Tal como faço todos os dias pela manhã.
Mas hoje especialmente, segui com a lembrança dos detalhes de uma linda mulher ordinária, mas muito especial e única na sua essência, como todas as mulheres desse mundo.

Otto – escutando Los Hermanos “Sentimental”

PS: Sei que hoje não é 8 de março, mas fica aqui antecipadamente minha homenagem a existência das mulheres, embora eu pense que dia da mulher é todo o dia...
PS 2: A música que da ínicio ao post é um “standard” do jazz, interpretado por diversos cantores, mas que na minha opinião é mais linda na voz do Sinatra...E que reflete um pouco a minha essência.
PS 3: Mas a verdade é que eu torço imensamente pra que isso aconteça de novo... Ou melhor, aconteça sempre! Meus dias são muito melhores assim =D

3 comentários:

Proud Mary disse...

Oie Otto!
Adorei teu blog, teus textos são mto bons!

ps: te linkei no meu blog! ;-)

Gabriel disse...

Apaixonar-se no ônibus é um problema. Tão rápido e tão improvável conhecer de fato alguém...
Mas tão freqüente.
Abraço!

Anônimo disse...

Já parou para pensar que observamos enquanto somos observados?
Talvez alguém estivesse escrevendo mentalmente um conto cujo personagem principal eras tu. E talvez tu não tenhas sequer olhado para trás.
Seja como for, estar no meio da multidão, ou no ônibus, ser anônimo, enfim... Sempre renderá boas estórias. Ou quem sabe, grandes coincidências e encontros.

Abração Maurinho!
E venha ver a familia Leitedelarocha.

Leandra